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OPINIÃO: Vedar os olhos para ver



Num dia destes, andando pela Itália, tive a oportunidade de passar pelo Festival de Cinema e assistir a alguns filmes que reproduziam a vida italiana nas décadas de 60 e 70. Cada filme que assistia me reportava para minha terra, para a minha gente, mas particularmente para as relações hodiernas que estabelecemos.

Do que assisti escolhi para comentar o filme Rosso Come Il Cielo (Vermelho Como o Céu). Este drama, dirigido por Cristiano Bortone e protagonizado por Luca Capriotti é baseado em fatos reais que relatam a história de vida de Mirco Balleri, um menino de 10 anos que vivia em uma pequena cidade da cercania de Pisa e era apaixonado por cinema.

Mirco vê sua vida mudar quando, em uma de suas brincadeiras, pega a arma de seu pai. Após um disparo acidental do revólver, ele perde grande parte de sua visão.

Além do sofrimento de não poder mais enxergar o mundo como antes, ele ainda precisava enfrentar o preconceito histórico da época, já que crianças com deficiência visual eram obrigadas a estudar em escolas especiais, com regime de internato, na cidade de Gênova.

No primeiro dia de aula, como primeira tarefa escolar, o professor pede aos alunos que entreguem uma pesquisa sobre as estações do ano. Muito criativo, inquieto e inteligente, Mirco descobre um velho gravador jogado pela escola, produz um material com os sons de cada estação do ano e entrega ao professor. Para surpresa de todos, o trabalho foi recusado e ele duramente repreendido em sala de aula.

Não assimilando bem esta "lição", o menino começa a usar sua criatividade e conquista a atenção e admiração dos outros alunos, que passam a ajudá-lo ativamente na construção de histórias sonoras. Assim, em uma apresentação teatral produzida especialmente para os pais dos alunos do internato, todos são convidados a vendar os olhos para que possam apreciar a criação em sua total originalidade, tal como foi criada.

Em uma das cenas do filme, Mirco descreve como são as cores: "O azul é como sentir o vento bater em seu rosto ao andar de bicicleta. O marrom é como o tronco de uma árvore, e o vermelho é o fogo. Vermelho é como fica o céu no pôr do sol".

Esta emocionante história de superação foi baseada na vida de Mirco Mencacci, um dos mais importantes editores de áudio da indústria do cinema italiano. É uma lição de vida que nos leva a refletir sobre o quanto é importante buscar novas possibilidades, mesmo em face das dificuldades encontradas.

Este filme me lembrou de como enfrentei e enfrento o preconceito, e me reportou para as vezes que precisei usar um sentido para receber a informação do outro, como: a cor do gosto, o som do perfume, o barulho do tato...

Caro leitor, você também já passou pela experiência de ter sido levado a fechar os olhos para poder ver alguma coisa?

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